No atual cenário da pandemia da novcoronavírus que atinge o Brasil e o mundo, a imunização da população tem sido uma das principais estratégias para reduzir as infecções e óbitos ocasionados pela Covid-19. Por causa disso, a implementação do calendário de vacinação, seguindo as diretrizes do Plano Nacional de Imunizações, tem ganhado ainda mais importância, sendo, de fato, uma das principais formas de enfrentamento dessa doença. 

Esse plano, que foi criado em 1973, é um grande marco para a saúde coletiva e tem grande valor no combate à infecção por doenças transmissíveis, tendo como foco realizar a aplicação, em larga escala, de vacinas. Isso porque a imunização em massa da população é a forma mais eficaz de controlar e, possivelmente, erradicar doenças transmissíveis, como é o caso da Covid-19. Um exemplo disso é a Varíola, que foi controlada e erradicada em meados de 1971, após a vacinação dos cidadãos brasileiros.  

Dessa forma, apesar do seu papel fundamental durante a pandemia atual, a importância de respeitar o calendário de vacinação não se restringe apenas ao contexto atual. A necessidade de determinar uma ordem e organização durante a aplicação de vacinas extrapola também para outras doenças transmissíveis, como a gripe, a hepatite B e o HPV. 

Como está o andamento do calendário de vacinação contra a Covid-19? 

Ao longo dos últimos meses, o calendário de vacinação contra a Covid-19 tem sofrido uma série de modificações e ajustes, tendo em vista que a produção das vacinas, apesar de estar mais ágil atualmente, ainda é insuficiente para garantir a quantidade de doses necessárias para toda a população. 

Segundo Pedro Corrêa, médico de Família e Comunidade da FeSaúde, “A organização do calendário foi feita como uma resposta à falta de vacina, demandando uma maior lentificação da imunização, permitindo que houvesse tempo para a aquisição e distribuição das vacinas para todas as cidades.”  

Em várias cidades e estados, tem sido observado a escassez de vacinas e o atraso no Calendário Vacinal pela falta de doses.  

“Apesar de vivermos em um país que possui um Sistema de Saúde único, o SUS, sabemos que o acesso à saúde é desigual e está ainda ligado à renda da população.” 

De acordo com Pedro Corrêa, ao contrário do que tem ocorrido no resto do país, o município de Niterói tem conseguido, dentro do possível, ter bastante sucesso nesse processo, buscando manter a quantidade de doses necessárias para aplicação da 1ª e 2ª doses nos cidadãos.  

“Em Niterói, conseguimos adiantar bastante o Calendário (de vacinação) nos últimos meses. Já estão sendo vacinadas, em Julho de 2021, as faixas etárias até os 32 anos, e esperamos que, no início do 2º semestre deste ano, já tenhamos iniciado a vacinação da população de até 18 anos”, afirma Pedro Corrêa. 

Quais são os riscos de não tomar a 2ª dose no prazo certo? 

 

Fonte: Freepik 

Existe um tempo ideal, que foi estipulado pelos fabricantes durante o desenvolvimento das vacinas, para a aplicação da segunda dose. Entretanto, após a aplicação em massa, diversos países têm estudado se um tempo maior entre as aplicações poderia trazer algum malefício no desenvolvimento da imunidade contra o coronavírus. 

De acordo com o médico Pedro Corrêa, o tempo entre as doses não afeta negativamente a resposta do sistema imune. Porém, caso a pessoa deixe de tomar a dose no prazo indicado pelo sistema de saúde nacional, pode haver um adiamento da finalização da imunização. 

“Existe um tempo ideal para a aplicação da 2ª dose, estipulado pelo Plano Nacional de Vacinação. Entretanto, de acordo com as pesquisas que foram feitas após o início de aplicação da vacina, o atraso entre as aplicações teve como única consequência o fato de as pessoas não terem terminado seu processo de imunização no tempo correto. Logo, houve um prolongamento do tempo de exposição ao vírus. Porém, de acordo com as pesquisas publicadas até então, não há grande impacto na qualidade da imunização.. 

No entanto, o médico destaca que o ideal é se vacinar dentro do prazo estabelecido, buscando evitar falhas no processo de imunização. 

É crime omitir que tomou a 2ª dose da vacina com o objetivo de tomar uma 3ª? 

A omissão da 2ª dose da vacina, com objetivo de tomar a 3º dose é crime. Isso ocorreu por meio da alteração do Decreto-Lei nº 2.848, com o projeto de lei PL 25/2021, tipificando essa fraude como crime.  

Apesar disso, algumas pessoas ainda insistem em burlar a lei, principalmente por acreditarem na facilidade de infringir o sistema público de saúde. Entretanto, o médico Pedro Corrêa faz um alerta: 

“Existem algumas pessoas que acreditam que não serão pegas, usando argumentos, como: ‘Ah, mas no postinho que fui não tinha computador, não dá para eles saberem que eu tomei as duas doses’. Entretanto, o sistema de saúde é capaz de identificar todos esses indivíduos, pois, apesar de não ser lançado no sistema imediatamente após a aplicação da vacina, posteriormente esses dados serão digitalizados. O Ministério Público irá convocar essa pessoa e ela poderá ser condenada de acordo com a legislação vigente.” 

As causas dessa infração podem ser diversas, porém, Pedro Corrêa destaca a relação desse crime com a crença de que as vacinas norte-americanas possam ser mais eficientes. Ele desmente essa informação e diz que não há estudos que comprovem essa diferença, sendo todos os imunizantes eficazes no combate ao coronavírus, desde que a população esteja vacinada. 

O médico ainda destaca que, no momento, não há necessidade de se tomar uma terceira dose, mas sim de imunizar a maior parte dos cidadãos.  

“A lógica da vacinação e da imunização é populacional. A imunidade precisa ser populacional, não apenas individual. Muitas pessoas presenciaram a infecção de uma pessoa já vacinada, e isso é normal. A vacina protege contra casos mais graves e diminui o número de casos. Dessa forma, quem acredita que já está protegido porque já se vacinou, essa não é a realidade no momento. Se 75% da população ainda não estiver vacinada, você não está totalmente protegido mesmo vacinado, sendo que os cuidados devem ser mantidos, como o isolamento social, o uso de álcool em gel e máscara”, afirma o médico. 

Existe algum risco em misturar diferentes vacinas? 

 

Fonte: Freepik 

Nos casos em que se torna necessário a mistura de vacinas, é preciso avaliar cada caso. Um exemplo disso é o risco de trombose associado à vacina Astrazeneca, que, apesar de baixo, pode ser um motivo para evitar a aplicação em gestantes e pessoas com predisposição para o desenvolvimento de trombos.  

Nesse sentido, caso a pessoa já tenha tomado a Astrazeneca como primeira dose e tenha apresentado algum efeito adverso de trombose ou esteja gestante, é possível usar a Pfizer como segunda dose. Independente de qual seja a situação, é preciso avaliar com um médico se há possibilidade e necessidade de mistura entre os diferentes tipos de vacina. 

Vacinas fora da validade, o que ocorreu? 

Nessa situação, Pedro Corrêa destaca a complexidade do acontecimento: 

“Existe uma guerra de acusações, pois existe uma norma que as unidades devem seguir de que a computação da aplicação das doses deve ser feita em até 48h. Entretanto, existem muitos locais em que o acesso é dificultado, tais como comunidades indígenas, quilombolas, entre outros locais, o que não descarta a possibilidade de ter ocorrido de fato o erro na aplicação.”  

Porém, existe uma forma de conferência muito simples que pode ser realizada pelo próprio indivíduo. Basta checar, no cartão de vacina, o lote e a data de vencimento, e comparar com a data de aplicação. 

Em algumas prefeituras, a data de validade está presente no próprio cartão de vacinação, sendo necessário que cada indivíduo analise o seu caso.