A pandemia do novo coronavírus completou no mês passado um ano do primeiro caso de um brasileiro contaminado pela doença em solo nacional. Desde então, a vida mudou. Grandes eventos foram cancelados, jovens estudantes foram obrigados a estudar de forma remota, por vídeo-aulas e muitos trabalhadores precisaram se adaptar ao novo modelo de serviço com o chamado home office. Passado um ano deste período que ainda assombra a sociedade mundial, fica o questionamento: O que aprendemos com tudo isso? Em entrevista ao portal da FeSaúde, o médico de família e mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fluminense, Pedro Corrêa, reflete sobre a maneira como a sociedade passou a encarar o vírus e os desafios que o poder público e os profissionais de saúde precisam enfrentar para vencer a guerra contra esse mal.

O que aprendemos depois de um ano de pandemia da Covid-19 no Brasil?
O que acontece é que há um problema crônico na nossa reprodução social: "a exploração do homem pelo homem". A cada crise, esse cenário pende desfavoravelmente à maioria explorada. Na era pré-coronavírus, vivíamos uma profunda crise mundial que alterou de forma dramática e definitiva as relações de trabalho, alijando os direitos dos trabalhadores em todas as partes do Mundo. No Brasil, essas mudanças foram acompanhadas de uma farsa jurídico-parlamentar  que desorganizou o que havia no estado brasileiro, mobilizando seus aparelhos em favor dos interesses das classes dominantes. Portanto, se há uma lição que deve ser aprendida com a pandemia é que essa forma de reprodução social em que estamos inseridos, a da exploração do homem pelo homem, não é capaz de entregar uma saída da pandemia para todos.

Quais os desafios que ainda teremos que enfrentar?
Temos que garantir a vacinação para todos os cidadãos; a subsistência da classe trabalhadora num cenário de desemprego e fim do auxílio emergencial; gestão da pandemia durante o período de vacinação, que pode durar mais de um ano e num cenário muito menos favorável para o isolamento social.
 
Quais são os cuidados que os profissionais de saúde precisarão acrescentar à rotina?
Deverão manter o uso rigoroso dos EPIs e a lavagem adequada das mãos. Para além disso, definir uma triagem para minimizar a circulação de usuários infectados assintomáticos na unidade.

Você tem acompanhado a imunização dos profissionais de saúde em Niterói. Qual é o seu sentimento, como médico?

Tenho acompanhado sim. Minha esposa trabalha na assistência e foi vacinada - o que é um alívio - mas sendo  realista, nossa sociedade não tem dificuldades para desenvolver mercadorias para atender uma determinada demanda. Nesse caso, o desenvolvimento da vacina é um movimento quase que natural.  O que geralmente falhamos é na distribuição igualitária dessas mercadorias. Por isso, muito mais importante do que defender a vacina, é defender o Programa Nacional de Imunização e o SUS que universalizam a distribuição dessa vacina pelo menos no Brasil.