O Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, traz a importante discussão sobre o papel social desse grupo na sociedade atual. A sobreposição de funções aliada às preocupações geradas pelo contexto da pandemia de Covid-19, tem afetado diretamente a saúde mental das mulheres. Segundo estudo realizado pela ONG Kaiser Family Foundation, 53% das mulheres que responderam à pesquisa afirmam que o estresse e a preocupação atuais têm relação com o novo vírus. 

Os papéis sociais, basicamente, são as diversas funções que o indivíduo ou o grupo desempenham na sociedade. A mulher, em especial, tem acumulado e realizado diversas tarefas, tanto dentro quanto fora do âmbito doméstico.  

“A sobrecarga de funções afeta a saúde mental das mulheres de várias formas, como pela carga horária do trabalho, salários mais baixos, utilização dos meios de transporte e dos inúmeros casos de assédio que estão associados, além dos cuidados quase totais dos filhos e da casa”, comenta a terapeuta ocupacional e gerente de Saúde Mental da FeSaúde, Mírian Ribeiro.  

foto: Freepik 

“Além da sobrecarga não permitir que a mulher crie espaços para cuidar da saúde mental, também gera ansiedade, autocobrança e sensações que provocam sofrimento”, completa a gerente da FeSaúde. Construir um ambiente para promover a saúde da mulher não é uma tarefa simples, mas é essencial. Incluir, nesse processo, as pessoas que fazem parte da rotina dessa figura feminina é o ponto de partida ideal a diminuição da sobrecarga de papéis que a mulher costuma ocupar no dia a dia. 

A pandemia na vida das mulheres 

No contexto da pandemia, há uma tendência ainda maior de piorar essa situação de acúmulo de tarefas da mulher. Isso porque o desemprego e as limitações que foram geradas a partir desse cenário tem agravado ainda mais a situação de vulnerabilidade de muitas mulheres. Essa situação é evidenciada, principalmente, no caso daquelas que já estão inseridas em cenários de violência e dependência financeira, demonstrando a relação entre a pandemia do Covid-19 e os impactos na saúde mental.  

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 7 milhões de mulheres abandonaram o mercado de trabalho na última quinzena de março de 2020, ultrapassando em 2 milhões o número de homens na mesma situação. Esse dado ilustra a desproporcionalidade das consequências da pandemia na vida de homens e mulheres no Brasil. 

Há ainda o aumento das vulnerabilidade para as mulheres que estão expostas diariamente ao vírus. “Nossa linha de frente contra o Covid é composta majoritariamente por mulheres”, evidencia Mírian Ribeiro. Os plantões exaustivos, a ocorrência de óbitos de pacientes, o medo da contaminação, além das novas demandas domésticas que surgiram com a pandemia são fatores que agravam os riscos à saúde mental da mulher. 

 

Para além das tarefas extras que a mulher foi adquirindo no atual cenário, o distanciamento social também tem destaque no que se refere a redução do cuidado e proteção à mulher. De acordo com Mírian, “o isolamento foi desconstruindo a potência do coletivo em proteger e produzir saúde mental e física para a figura femina”. Nesse sentido, destaca-se a importância da rede de apoio - amigos, familiares, trabalho, grupos de apoio - para acolher e auxiliar as mulheres ao longo da vida. 

Em contrapartida, o atual contexto também evidenciou a presença importante das mulheres na pesquisa científica, mostrando um avanço do papel da figura feminina na sociedade. Um exemplo disso foi o primeiro sequenciamento genômico do novo coronavírus feito na América Latina, que foi coordenado por uma mulher, Jaqueline Goes de Jesus, na USP. 

Atenção à saúde da mulher em Niterói 

"Niterói tem uma rede de saúde mental que pode abarcar diversas intensidades de sofrimento da mulher”, afirma a gerente da FeSaúde. Nesse contexto, o sistema de atendimento do município tem capacidade para acolher, com qualidade, às mulheres, em suas diferentes necessidades e particularidades.  

Além disso, a RAPS (Rede de Apoio Psicossocial) oferece o suporte necessário para o tratamento e a promoção da saúde em casos de transtornos mentais, como depressão, ansiedade generalizada e dependência de drogas.