A falta de tempo costuma ser a desculpa mais frequente para uma alimentação repleta de fast food, alimentos industrializados e ultraprocessados, ricos em sódio e outros de fácil preparo. Juntamente com essa “praticidade”, aumentam os índices de obesidade, pressão alta e diabetes.

O segundo volume da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgado no último dia 21 de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, entre 2003 e 2019, a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade do país mais que dobrou, passando de 12,2% para 26,8%. No período, a obesidade feminina passou de 14,5% para 30,2% e se manteve acima da masculina, que subiu de 9,6% para 22,8%.

Em 2019, uma em cada quatro pessoas de 18 anos ou mais de idade no Brasil estava obesa, o equivalente a 41 milhões de pessoas. O excesso de peso atingia 60,3% da população de 18 anos ou mais de idade, o que corresponde a 96 milhões de pessoas.


A pesquisa, que pela primeira vez coletou informações sobre a Atenção Primária à Saúde (APS), mostrou ainda que o excesso de peso também ocorria em 19,4% dos adolescentes de 15 a 17 anos, o que corresponde a um total estimado em 1,8 milhão de pessoas, sendo 22,9% de moças e 16% dos rapazes. A obesidade atingia 6,7% dos adolescentes: 8% no sexo feminino e 5,4 % no sexo masculino.


Fatores sociais envolvidos

Uma alimentação não saudável e a prática insuficiente de exercícios físicos são os principais fatores de risco para a obesidade. Embora pareçam medidas individuais, que dizem respeito ao estilo de vida das pessoas, fazer mais atividade física e comer bem podem ser tarefas difíceis nos dias atuais. 

Nas grandes cidades, o tempo de deslocamento para o trabalho é cada vez maior, reduzindo as horas destinadas ao lazer e ao trabalho doméstico. A infraestrutura pública para prática de exercícios ao ar livre nem sempre é a mais adequada, sem falar na violência urbana, tornando as academias uma solução interessante, mas apenas para a parcela da população que pode pagar por esse serviço.

Em muitos casos, a novela, o futebol, o programa de auditório ou o reality show são opções de lazer mais convidativas para o pouco tempo que sobra entre o trabalho e as tarefas domésticas. Não é raro esse lazer ser acompanhado pelo consumo de ultraprocessados, alimentos industrializados com grandes quantidades de calorias. A cervejinha do final do dia, o biscoito que se come no trajeto para o trabalho, ou mesmo aquele iogurte para crianças que "vale por um bifinho" são exemplos de alimentos ultraprocessados.

O Ministério da Saúde, em seu "Guia Alimentar Para a População Brasileira", lista uma série de obstáculos para uma alimentação adequada e saudável em nossa sociedade:

● Pouca informação de fonte confiável sobre alimentação saudável;

● Oferta maior de alimentos ultraprocessados, sempre acompanhados de muita propaganda, descontos e promoções, enquanto alimentos in natura (aqueles obtidos diretamente de plantas ou de animais, sem qualquer alteração) ou minimamente processados (alimentos que passaram apenas por limpeza, moagem ou pasteurização) nem sempre são comercializados em locais próximos às casas das pessoas;

● Custo;

● Enfraquecimento da transmissão de habilidades culinárias entre gerações, favorecendo o consumo de alimentos ultraprocessados;

● Tempo;

● A publicidade de alimentos ultraprocessados domina os anúncios comerciais de alimentos, frequentemente veicula informações incorretas ou incompletas sobre alimentação e atinge, sobretudo, crianças e jovens.


Uma parceria do SUS com a família

As unidades da rede de Atenção Primária à Saúde (APS) são locais de cuidado para as famílias, com competência cultural para compreender a dificuldade de estabelecer uma rotina de atividade física e alimentação saudável no território em que está inserida. As equipes de Saúde da Família devem orientar e traçar estratégias para a adoção de uma alimentação mais saudável e atividade física regular. Cabe à equipe, ainda, pela lógica da promoção à saúde, desenvolver, em parceria com as lideranças locais, estratégias de reivindicação junto ao poder público de ações que levem ao território melhor abastecimento de alimentos in natura a preços acessíveis e locais públicos para prática da atividade física.

Para ajudar na adoção de um cardápio mais saudável, listamos 10 coisas que você precisa saber:

1. Faça dos alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;

2. Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos;

3. Limite o consumo de alimentos processados;

4. Evite alimentos ultraprocessados (formulações industriais, que contêm aditivos);

5. Coma com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia;

6. Faça compras em locais que oferecem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados;

7. Desenvolva, exercite e partilhe habilidades culinárias;

8. Planeje o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece;

9. Dê preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora;

10. Seja crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais.

Consultoria de Pedro Corrêa, médico responsável técnico da FeSaúde