O MACquinho foi o palco para a escolha do samba-enredo do Bloco Loucos Pela Vida. O público teve a oportunidade de acompanhar de perto as composições concorrentes que darão vida ao enredo “Cata Lata, Cata Sonhos - O Ambiente Vem Gritar: No Esquenta e Esfria, Nosso Bloco Vai Passar”. Com um forte apelo social, o tema abordará o racismo ambiental e a justiça climática.

    O evento, que contou com uma dinâmica de seleção e apresentações, é uma iniciativa que fortalece a integração entre arte e saúde, oferecendo aos usuários da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) uma plataforma para expressar suas vozes e talentos. Para apoiar a composição dos sambas, o Centro de Convivência e Cultura Dona Ivone Lara ofereceu oficinas de escrita. No total, foram inscritos oito sambas.

    O enredo deste ano, inspirado em um catador de latinhas da favela, destaca a desigualdade e os desafios das comunidades vulneráveis diante da crise climática. O personagem simboliza muitos brasileiros marginalizados, transmitindo uma mensagem de resistência e urgência por justiça ambiental, ilustrando como a degradação ambiental intensifica a pobreza e a vulnerabilidade dos mais desfavorecidos.

    “O carnaval é um espaço importante de integração e desmistificação da ‘loucura’, resistindo às formas de segregação das populações vulneráveis. Nosso principal objetivo é promover inclusão, permitir que as pessoas se expressem do seu jeito e diminuir estigmas”, enfatiza Tatiana Simões, que atua na Gerência de Atenção Psicossocial.

    O Centro de Convivência e Cultura Dona Ivone Lara (CeCo) desempenha um papel fundamental na promoção dessas atividades. Este espaço da RAPS oferece atividades culturais, de lazer, esporte, trabalho e geração de renda, conectando os usuários com a cidade. Entre as atividades relacionadas ao bloco, destacam-se as oficinas de escrita, percussão, adereços e os ensaios semanais da bateria.

    O oficineiro Everaldo Lucas Pereira e a psicóloga Erika Belmonte Reis, ambos do Coletivo de usuários e profissionais do CeCo Dona Ivone Lara, dão detalhes sobre o processo criativo do samba “Vai passar”, escolhido para compor o repertório do bloco em 2025:

    “Foi realizado um trabalho coletivo que visou agrupar experiências múltiplas vividas pelos participantes que se relacionassem com o tema escolhido. A estética foi cuidadosamente tecida em torno de uma crítica social, com atenção especial aos aspectos que não reforçassem estigmas sociais”, pontua Everaldo.

    “A letra do samba ‘Vai passar’, vencedor do concurso, traz luz ao racismo ambiental, às queimadas, ao árduo trabalho de quem vive e sobrevive da reciclagem de materiais variados, mas também traz uma mensagem de esperança”, destaca Erika.

    Para os usuários da RAPS, a escolha do samba-enredo e tudo o que envolve a construção do Carnaval representam mais do que uma atividade cultural. É uma oportunidade de reabilitação psicossocial, de construção de redes de relações e de participação em processos de criação e decisão. A valorização dos indivíduos como parte ativa do bloco e a construção de relações harmônicas com familiares e conviventes são alguns dos benefícios dessa integração.