O Solar do Jambeiro, um dos principais símbolos culturais de Niterói, recebeu nesta sexta-feira (24) a escolha do samba-enredo do Bloco Loucos Pela Vida, que promete emocionar o público no carnaval de 2026. O evento reuniu usuários da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), profissionais de saúde, artistas, autoridades municipais e convidados em uma tarde marcada por música, integração e celebração da arte como instrumento de cuidado.
Durante o evento, os sambas finalistas foram apresentados em um clima de celebração e pertencimento, reafirmando o papel do Bloco Loucos Pela Vida como um importante instrumento de inclusão social e valorização das expressões artísticas dos usuários da RAPS.
A banca de jurados foi composta por nomes com trajetórias ligadas à arte e à saúde mental: Hamilton Assunção, vocalista e principal compositor do grupo Harmonia Enlouquece, cuja trajetória artística começou no Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro; Francisco Sayão, médico e diretor do mesmo Centro, defensor das artes como ferramentas terapêuticas; Tracy Rangel, professora de música; Elaine Rodrigues, pedagoga, integrante da Escola de Samba Viradouro e uma das fundadoras da Escola de Samba Arariboia; e Renata Aglai, diretora de Acessibilidade Cultural da Secretaria Municipal das Culturas.
Nesta edição, sete sambas foram inscritos e apresentados, resultado de um processo coletivo de criação que envolveu oficinas e encontros realizados ao longo dos últimos meses. Após as apresentações, o júri escolheu como vencedor o samba “Sou esperança, sou liberdade”, de autoria de Jaguacyara, usuária da RAPS, que representará o enredo “O CAPS não é meme: por que minha invisibilidade te incomoda?” no desfile de 2026.
Emocionada, Jaguacyara contou que o samba foi composto a partir de sua experiência com a maternidade atípica. Ela afirmou que não esperava vencer, mas que a conquista tem um significado profundo.
“Fiz esse samba inspirada na minha experiência como mãe, nas alegrias e nos desafios dessa jornada. Não imaginei que fosse ganhar, por isso receber esse reconhecimento me emociona imensamente”, declarou.
O vereador Leonardo Giordano também esteve presente no evento e destacou a importância das políticas públicas voltadas à inclusão e à valorização da cultura como parte fundamental da construção de uma cidade mais humana e solidária.
Ele lembrou ainda que o bloco recebeu o Diploma Nicette Bruno, concedido pela Câmara Municipal de Niterói, em reconhecimento à sua contribuição cultural e social.
“É bonito ver iniciativas como essa florescendo em uma cidade que investe tanto em cultura e inclusão”, completou.
Além das apresentações concorrentes, o evento contou com a participação especial do projeto social Viva Batuque, idealizado por Lucas Ratto. O projeto forma jovens percussionistas e já levou alunos para abrir o desfile das escolas campeãs do Rio de Janeiro, em parceria com a bateria Fina Batucada na Escola Embaixadores da Alegria. A presença do grupo reforçou o compromisso do encontro com a inclusão e o protagonismo de novas gerações através da música.
O grupo Harmonia Enlouquece também marcou presença no evento, levando ao público a força de sua trajetória artística — nascida dentro de um centro psiquiátrico do Rio de Janeiro — e reafirmando, através da música, que a arte é um potente instrumento de liberdade, escuta e transformação social.
“O carnaval é um espaço de liberdade, de criação e de desconstrução de estigmas. Cada composição traz um pouco da vivência, da força e da poesia de quem participa desse processo”, destacou Tatiana Simões, apoiadora do Centro de Convivência e Cultura pela Gerência de Atenção Psicossocial.
Assim como em anos anteriores, o Centro de Convivência e Cultura Dona Ivone Lara (CeCo) desempenhou papel fundamental no processo de criação dos sambas, oferecendo oficinas de escrita para apoiar os participantes. A atividade reforça o compromisso da rede em promover espaços de convivência, trocas afetivas e valorização dos saberes coletivos.
O samba vencedor, que será o tema do desfile de 2026, foi escolhido por sua mensagem de resistência, luta e pertencimento, traduzindo em versos e melodias a potência da arte como cuidado e transformação social.
Mais do que uma competição, a escolha do samba-enredo é uma celebração coletiva da criatividade e do poder curativo da arte, pilares que sustentam o trabalho desenvolvido pela RAPS em Niterói.
