Pandemia da Covid-19 acende o alerta sobre a necessidade dos trabalhadores essenciais cuidarem da saúde mental 

A pandemia da Covid-19 tem mudado significativamente a vida dos profissionais de saúde do Brasil e do mundo. A sobrecarga de trabalho aliada ao medo da contaminação por um vírus que pode ser letal tem afetado a saúde mental de quem está na linha de frente na luta contra o coronavírus. Um estudo coordenado pela Fiocruz e divulgado no fim do ano passado aponta que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia, no Brasil.

Ainda segundo dados do estudo, mais da metade deles — e 27,4% do total de entrevistados — sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se trataram de doenças mentais.

“É preciso que se tenha atenção redobrada à saúde mental dos trabalhadores em locais onde se agregam múltiplos problemas sociais e de saúde. Segundo a teoria de sindemias (proposta por Merrill Singer nos anos 90), a presença dessas situações simultaneamente age de forma sinérgica, aumentando o risco de problemas de saúde, tanto física quanto mental”, comenta a pesquisadora da Fiocruz Raquel De Boni, que participou do estudo. 

O impacto da pandemia na saúde mental dos enfermeiros também é tema de uma outra pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). O estudo ouviu 13.587 profissionais de Enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem). 

A maioria das pessoas entrevistadas relataram alterações de comportamento por conta da pandemia, entretanto apenas 14% afirmaram fazer tratamento psicológico. O estudo apontou que 87% dos profissionais ouvidos tiveram sintomas de burnout. Essa síndrome é manifestada por sinais de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico e tem como principal causa o excesso de trabalho. 

Estilo de vida pouco saudável 

Em ambos estudos os pesquisadores também identificaram que estilo de vida pouco saudável está associado a uma chance maior de um profissional de serviços essenciais ter sintomas de depressão e ansiedade.  

Para evitar esse quadro de ansiedade, muitos profissionais já têm se atentado para a necessidade de criar válvulas de escape durante os momentos de folga. A enfermeira Evelyn Leandro, que coordena o Drive Thru de testagem da Covid-19, no Cafubá, em Niterói, diz que esse é um dos momentos mais importantes de sua carreira, mas que também tenta cuidar da mente para estar pronta para cuidar de quem precisa:

"O profissional da saúde está sendo muito sobrecarregado. É fundamental que ele tenha uma outra atividade para que também possa cuidar da sua mente. A prática de esportes ou mesmo cultural ajuda com que o profissional preencha o seu tempo livre com uma atividade mais leve. Eu, por exemplo, amo assistir séries e ler. Essa é a minha válvula de escape".  

Além das atividades físicas e culturais, o profissional de saúde que se sentir com sintomas de ansiedade e depressão tem no Sistema Único de Saúde (SUS), através da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) profissionais especializados que podem ajudar no tratamento. Em Niterói, os atendimentos são feitos nos ambulatórios de saúde mental nas seguintes policlínicas regionais do município:

Ambulatório Multiprofissional em Saúde Mental do Barreto 

Ambulatório Multiprofissional em Saúde Mental do Fonseca

Ambulatório Multiprofissional em Saúde Mental de Piratininga 

Ambulatório de Saúde Mental de Jurujuba

Ambulatório Multiprofissional em Saúde Mental de Pendotiba 

Ambulatório Multiprofissional em Saúde Mental do Centro