31.12.2020 - No Brasil, cerca de 23% da população possuem alguma deficiência, seja ela física, intelectual, auditiva, entre outras. Apesar disso, as políticas de inclusão no país são precárias. Uma realidade que a FeSaúde vai encarar de frente, buscando sempre as melhores práticas. Queremos ser um modelo na área da inclusão, porque isso faz parte dos princípios da fundação, e para nos ajudar nesta construção conversamos com a psicóloga Fabiana Paes Barreto, que está se especializando em Direitos Humanos, Saúde, Acessibilidade e Inclusão na Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

Qual o real conceito de inclusão?

O conceito da inclusão parte do princípio de que, para inserir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada de modo a atender às necessidades de todos os seus membros. Uma sociedade inclusiva não admite preconceitos, discriminações, barreiras sociais, culturais e pessoais. Nesse sentido, as estratégias de inclusão devem focar no seguinte aspecto: não é um limite individual que determina a situação de deficiência da pessoa, mas, sim, as barreiras existentes nos espaços, no meio físico, no transporte, na informação, nos serviços, nas relações interpessoais.

Qual a diferença entre inclusão e acessibilidade?

A inclusão, por si só, não é suficiente. Não adianta incluir as pessoas nos espaços se estes não forem acessíveis. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência viver de forma independente e exercer sua cidadania e participação social. Por exemplo, não adiantaria matricular um aluno que é deficiente auditivo em uma escola tradicional se não houver, naquele local, profissionais aptos e tecnologias assistivas. Outro exemplo seria contratar um cadeirante para uma empresa que não possui rampas ou mesas adequadas. Por isso, a inclusão só é possível se houver acessibilidade.

Como as unidades e os profissionais da saúde podem ser inclusivos?

Esse é um desafio muito grande para todos. É preciso ampliar a formação dos profissionais neste tema para que eles estejam devidamente preparados para o atendimento das necessidades em saúde, para o acolhimento e para a assistência deste público específico, mas diverso. Quanto às unidades de saúde, é imprescindível que novos planejamentos sejam executados para que elas apresentem as condições e a estrutura necessárias para atender às regras de acessibilidade vigentes em nosso país, levando-se em conta tanto o entorno quanto a área interna.

E os aspectos da relação de trabalho?

A inserção social de PCDs pelo mercado formal de trabalho é um fenômeno recente em nossa sociedade. A contratação desses trabalhadores pelas organizações, mesmo que seja para atender as ações afirmativas como a Lei de Cotas, pode proporcionar aspectos positivos em seu desenvolvimento psicossocial. Em contrapartida, na grande maioria das vezes, as condições de trabalho contam com diversas barreiras impostas pelo ambiente laboral e social. Assim, se faz necessário o planejamento e a adequação dos espaços, aliado à oferta de tecnologias e uma equipe capacitada para que ocorram também mudanças de atitude. Essas são estratégias fundamentais para promover uma legítima inclusão desses trabalhadores.

Vale destacar que todos os espaços da nossa sociedade precisam estar preparados para receber a todos. Isso porque as pessoas que necessitam do auxílio de outras para alcançar seus objetivos não vivenciam a essência do conceito de acessibilidade universal em nenhum momento.

Ainda temos muito a avançar na inclusão de pessoas com deficiência?

Creio que muito já se avançou, porém ainda há muito para evoluirmos em relação à inclusão de PCDs. A deficiência é um conceito em constante debate e transformação. Atualmente, entendemos que as pessoas com deficiência são aquelas que vivenciam situações de impedimento da sua participação social por se depararem com diferentes barreiras. Dessa forma, a deficiência é relacional, resultado da interação indivíduo/sociedade. E falar de inclusão é lembrar do lema “Nada sobre nós sem nós”, onde as pessoas com deficiência ganham protagonismo nesse processo e apontam quais são as expectativas e necessidades para que realmente a inclusão tenha impacto nessa população. Esta deve ser uma luta conjunta!