A atuação colaborativa dos diversos profissionais da saúde é o ponto chave para o desenvolvimento de qualquer sistema de cuidado, seja ele público ou privado. Na FeSaúde, o gerenciamento da atuação e da organização dos processos de trabalho valoriza a atuação interprofissional, buscando o acesso aos diversos especialistas. 

Apesar da importância individual de cada profissional, o atendimento multiprofissional é o principal fator que contribui para a garantia da integralidade, um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), e para a promoção do cuidado efetivo à saúde do indivíduo. Essa é uma das principais abordagens utilizadas pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) como destaca a cirurgiã-dentista, Aline Bressan: 

“Por meio da Estratégia de Saúde da Família, o trabalho em equipe possibilita oferecer diagnósticos e tratamentos diferenciados, devido à pluralidade de profissionais”. 

Enquanto odontóloga, ela evidencia a importância da atuação colaborativa entre os profissionais, associada também à atuação para além das Unidades Básicas de Saúde (UBS).  

Aline Bressan também destaca a importância do enfoque preventivo nos mais diversos setores, que podem agir de forma articulada em ações para a população, de maneira que tratar da saúde bucal, por exemplo, não se torna apenas uma função do cirurgião-dentista. 

“Escova, pasta de dente e fio dental eram disponibilizados nas ações educativas e na visita domiciliar pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS), que levava um kit com itens de higiene bucal e orientava os pacientes, onde trabalhei como dentista de família”. 

Como exemplo, a odontóloga traz a visitação em creches e escolas para campanhas educativas, que contam com uma gama de profissionais da saúde com um propósito único: promoção do cuidado com a saúde da população. 

“Em creches e escolas nós incentivamos ações de escovação, abordando tanto os alunos, quanto os funcionários a respeito dos cuidados com a higiene bucal e com a alimentação com os materiais a serem utilizados. A troca de conhecimento entre os profissionais nas ações educativas, por exemplo, fez com que fosse possível que todos se apropriassem das estratégias de promoção da saúde bucal”. 

Apesar da importância da pluralidade e do trabalho conjunto, cada profissional possui suas designações e possui também seu papel individual no SUS. 

Terapeuta Ocupacional (TO) 

A introdução da Terapia Ocupacional se iniciou no SUS a partir de políticas públicas que tinham como ideal o cuidado como promotor de direitos. A saúde é uma questão complexa que aborda diferentes aspectos do indivíduo, uma vez que ele é considerado um ser biopsicossocial.  

A partir disso, a Terapeuta Ocupacional, Mirian Ribeiro, destaca a importância do TO em colaborar para a manutenção da saúde dos pacientes: 

“É uma profissão que se constitui a partir da composição de campos de conhecimento muito diversos. Áreas de saberes estas que dão conta, por exemplo, de olhar um movimento enquanto expressão, direito, músculo, amplitude, ato e desejo’’. 

Mirian ainda destaca a importância dessa profissão no trabalho multiprofissional e na atenção integral, que são pilares do SUS: 

“Atualmente, enquanto TO gestora, entendo que a formação diversificada da profissão me instrumentaliza para um olhar amplo e estratégico às equipes e aos processos, e mais do que isso, abre a possibilidade de interlocuções que sustentam a diversidade dos atores presentes no cotidiano de gestão”. 

Médico 

O médico no SUS é um profissional que se insere como parte da rede de especialistas que fazem parte do cuidado integral ao paciente. 

Apesar da importância desses profissionais nas equipes de saúde, Pedro Corrêa, médico de Família e Comunidade, destaca a importância de desconstruir o olhar idealizado sobre os médicos que, por muito tempo, foi uma profissão destinada às classes mais altas da sociedade. 

Pedro Corrêa ainda ressalta que, para a garantia do cuidado efetivo para com a população, a inserção de profissionais mais próximos à realidade da comunidade contribui para a melhoria do cuidado: 

“O trabalho do médico vai significar mais para o SUS a partir do momento em que esse profissional passar a entender quem é atendido pelo sistema”, ele ainda destaca que uma das formas de alcançar esse objetivo é por meio da inserção das pessoas das classes mais baixas da sociedade nos cursos de medicina. 

De acordo com o médico de Família e Comunidade, essas medidas podem colaborar para que se tenha uma visão menos idealizada e mais resolutiva em relação à representatividade no SUS e no cuidado aos pacientes atendidos por esse sistema. 

“Eu como médico só trabalhei dentro do SUS. Em poucos momentos trabalhei no sistema privado e é muito ruim não poder atender alguém que está passando mal na sua frente pelo fato de a pessoa não ter um cartão de plano de saúde. O SUS traz essa oportunidade para nós que acreditamos no desenvolvimento dos processos de saúde e na oferta de um trabalho de qualidade para toda população”. 

Ele ainda destaca que essa oportunidade não é algo destinado apenas aos profissionais médicos, mas também aos técnicos de enfermagem, enfermeiros, agentes comunitários, dentistas, psicólogos entre outros, destacando mais uma vez a importância da integralidade no cuidado. 

Odontólogo/Dentista 

Imagem: Aline Bressan, cirurgiã-dentista 

O trabalho do odontólogo ao longo dos anos passou por diversas mudanças. Aline Bressan, destaca a evolução do serviço para um trabalho de prevenção, cuidado e tratamento das diversas doenças que acometem o sistema bucal. 

“Se pensarmos historicamente, a intervenção se dava por meio de uma odontologia mutiladora, de maneira que, em qualquer problema bucal, o dente era removido, por exemplo”. 

Assim como em diversos outros setores, a odontologia passou por transformações na abordagem profissional, como relata a cirurgiã-dentista: 

“Diferentemente do modelo antigo, agora atuamos na promoção de saúde bucal, desde ações preventivas até as assistenciais, fora do consultório odontológico e dentro do consultório, podendo acompanhar e tratar os pacientes”. 

No SUS, atualmente, “para além da higiene bucal, nós conseguimos articular  

com outros setores, como as escolas, creches, abrigos e outros equipamentos sociais, oferecendo atendimento às populações mais vulneráveis. Além disso, temos também estratégias preventivas, como promoção da alimentação saudável, da higiene bucal e de ações de pequeno porte, como tratamentos restauradores atraumáticos”, afirma Aline, evidenciando a pluralidade da atuação desse profissional no sistema público. 

Existem, atualmente, diversos serviços disponibilizados para a população, como tratamento de canal, obturação/restauração, biópsias de lesões na boca, entre outros. Todos esses serviços demonstram a ampliação do espaço no SUS para a atuação dos diversos especialistas, buscando um cuidado integral e longitudinal em todos os aspectos da saúde do indivíduo. 

A odontóloga ainda finaliza destacando a importância do cuidado multiprofissional no diagnóstico precoce das doenças e na intervenção efetiva, não só dos dentistas, mas de toda a equipe de atenção à saúde.