A implementação de Drive-Thru tem se popularizado em diversos locais como forma de estratégia para intervenções de saúde em relação à Covid-19. Em Niterói, esse modelo ganhou muita notoriedade devido ao seu sucesso. A FeSaúde tem trabalhado não só nessa campanha, mas também em outras intervenções que buscam promover saúde de qualidade para a população, tanto no enfrentamento ao coronavírus, quanto nas demais necessidades dos niteroienses. 

Em entrevista ao portal "FeSaúde", a diretora de Atenção à Saúde, Stefânia Soares, abordou com profundidade a efetividade que o Drive-Thru obteve durante todo o período de funcionamento, que teve início no dia 3 de junho de 2020. À frente dos trabalhos da equipe técnica da FeSaúde, Stefânia também abordou as outras estratégias que a equipe tem realizado e como elas têm impactado no cuidado à saúde da população.

Drive Thru de testagem na UFF (foto: Ricardo Rigel)

Como você avalia esse primeiro ano da estratégia do Drive Thru para o combate à pandemia do Covid-19?  

O primeiro ano de aplicação dessa estratégia foi extremamente positivo para a população de Niterói. Os Drive Thrus são uma forma de oferecer a possibilidade de acesso à testagem para identificar a infecção por coronavírus, mantendo o maior nível possível de segurança, evitando novas contaminações, além de evitar a sobrecarga dos demais serviços do sistema de saúde. Para mim, as palavras que resumem esse primeiro um ano de funcionamento dos drives são: “ampliação do acesso, conforto e segurança do cidadão, inovação, tecnologia e aprendizado”. 

Com mais de 70 mil testagens realizadas, além de mais de 27 mil doses de vacina aplicadas, esses pontos de atenção representam, hoje, uma modalidade de serviço que permite acelerar o acesso da população aos testes e vacinas, associada à oferta de procedimentos em saúde de qualidade e com menores riscos de exposição à Covid-19. 

Drive Thru de testagem na UFF (foto: Ricardo Rigel)

Quais foram os maiores desafios no início da pandemia? E de que maneira a FeSaúde lidou com essas questões?  

O grande desafio da pandemia é lidar com o inesperado. No início, sabíamos muito pouco sobre as formas corretas de manejo clínico, tratamento, protocolos de segurança e sobre a evolução da doença e suas consequências de médio e longo prazo. Por isso, pensar na oferta de uma modalidade de serviço, que não possui uma parametrização conhecida e que significa uma forma inusitada de atender ao cidadão foi um desafio para a nossa equipe. Encontrar um modelo ideal, oferecendo conforto, segurança e praticidade foi a nossa prioridade.  

Toda a equipe da FeSaúde lidou com essa situação inesperada de forma séria e com muita dedicação. Nossa equipe se empenhou em levantar evidências científicas, analisar as experiências nacionais e internacionais e assim construir uma proposta de trabalho ideal para a realidade de Niterói.  

Stefânia Soares (foto: Ricardo Rigel)

De que maneira a sua equipe faz para manter os profissionais dos drives alinhados com os protocolos de vacinação? Eles passam por treinamentos? 

Uma situação de emergência sanitária, como a que estamos vivenciando, exige um grande alinhamento e empenho de toda a equipe. Os treinamentos são contínuos e diários. Todos os dias, alguns minutos antes da abertura do turno de atendimento, os profissionais se reúnem para repassar todos os procedimentos importantes e necessários para a prática ao longo do dia. Além disso, é feita também a atualização periódica da equipe em relação aos novos protocolos indicados pelo Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, e pela Coordenação de Imunização do Município. 

Além desses treinamentos, vocês também monitoram a avaliação dos usuários do drive? Como tem sido a resposta?  

Com apoio da equipe de informação da FeSaúde, coordenada por Ana Luísa Pinho, temos feito os boletins de monitoramento de ambos  serviços oferecidos no Drive Thru: a testagem e a vacinação. Colocamos em prática há dois meses a “Pesquisa de Satisfação”, que é uma ferramenta de gestão e traduz o  compromisso da FeSaúde de trabalhar orientado a partir da percepção do cidadão estabelecida por critérios avaliativos sobre a rotina do serviço.  As quatro dimensões principais avaliadas são: “Organização do serviço”, “Atendimento/relacionamento com o público”, “A técnica utilizada no procedimento de testagem ou de vacinação”, e “Tempo de espera” dentro do drive thru. 
Esse  monitoramento é importante tanto como guia para promover a qualidade do serviço, como também para dar transparência acerca dos trabalhos que estão sendo realizados tanto para a população como para as instituições parceiras que colaboram para a realização das ações no dia a dia do drive thru. 

Stefânia Soares ao lado da diretora geral da FeSaúde, Anamaria Schneider, e do superintendente da UFF, Mário Ronconi, durante evento de treinamento aos profissionais do Drive Thru de Vacinação e Testagem 

É possível que a estratégia dos Drives seja ampliada para outras regiões de Niterói? 

Nessa última semana o calendário da vacinação incluía apenas os que estavam com grupos prioritários, com o retorno do critério por idade, a tendência é que a demanda aumente bastante, o que sinaliza a necessidade de implantação de mais Drive-Thrus de vacinação.  
Com a quantidade de doses que estamos recebendo do Ministério da Saúde, o Drive thru do Gragoatá e as demais unidades vacinadoras do município têm sido suficientes. A Secretaria de Municipal de Saúde já sinalizou a possibilidade de implementação de novos drives, um na região Oceânica e outro na região Norte da cidade de Niterói. 

Ainda em 2020, você passou a integrar um programa da Fiocruz de monitoramento do Covid-19 na rede de esgoto de Niterói. Qual é a importância desta pesquisa e quais foram os resultados até aqui?

Essa pesquisa, que teve início em abril de 2020, está sendo feita pela Fiocruz, num acordo de cooperação científica com a prefeitura de Niterói, representado pelas Secretarias de Saúde, do Meio Ambiente e o Escritório de Gestão de Projetos, com o apoio da empresa Águas de Niterói.  
O trabalho de coleta e análise das amostras de esgoto sanitário é feito quinzenalmente pelas pesquisadoras da Fiocruz. Essas informações são disponibilizadas para a Prefeitura de Niterói, que em conjunto análise de outros indicadores, planeja e adota medidas para o manejo da pandemia. Nossa participação no grupo que discute os caminhos da pesquisa foi importante porque pudemos construir uma metodologia orientada por princípios da Atenção Primária à Saúde, como a análise situacional dos diferentes territórios da cidade. No início da pandemia, o que se tinha à mão eram indicadores assistenciais como taxa de ocupação de leitos, casos suspeitos, casos confirmados, dentre outros. Os dados dessa pesquisa constituem um novo parâmetro para se conhecer sobre a circulação do vírus nas diferentes regiões da cidade, ou seja, é a vigilância ambiental podendo orientar as práticas dos profissionais de saúde das equipes do Programa Médico de Família.  

Stefânia Soares (foto: Ricardo Rigel)

Além do tema covid-19, a sua equipe também trabalha em outras frentes. Em março, o secretário de saúde, Rodrigo Oliveira, lançou a Carteira de Serviços do Programa Médico de Família de Niterói. Qual é a importância deste documento e qual foi a participação da FeSaúde na elaboração dele?

A Carteira de Serviços do PMF é um instrumento de promoção de ações e serviços de saúde que permite orientar profissionais e gestores de saúde, assim como confere transparência com a população quanto a quais são os tipos de serviços que eles podem encontrar em qualquer unidade do programa. Nossa equipe  se debruçou para conhecer as experiências de outros municípios e países que também adotam esse tipo de instrumento e preparar uma metodologia de escrita e debates técnicos, com estreita colaboração dos técnicos da Vipacaf/FMS. 
Todo esse trabalho, realizado ao longo de mais de seis meses durante o ano de 2020, foi coordenado pela Brena Tostes, nossa gerente do Núcleo Estratégico e Apoio Técnico e o resultado foi uma lista de 223 ações, organizadas por ciclos de vida e outras condições específicas. Tudo bem detalhado e sistematizado como se fosse um cardápio dos serviços. A carteira, já aprovada pelo Secretário de Saúde, está em fase de publicação. Ela sairá num formato de um livreto digital e alguns exemplares impressos, com linguagem e visual de fácil assimilação para todos.  

Por fim, gostaríamos de saber qual é o seu desejo, como profissional da saúde, para o nosso país?  

Vacina no braço! Eu desejo muito que esse processo que nós estamos passando, com essa crise sanitária e humanitária, tenha um fim e que seja breve. Já passou muito tempo, foram mais de 473 mil vidas perdidas, além daqueles que ficaram com alguma sequela devido a infecção, e a conta não fecha só nisso, há os milhares de desempregados e pessoas em situação de miséria. 
Eu espero que o nosso país promova um amplo acesso às vacinas de uma forma rápida e emergencial para que todos possam voltar a ter uma sensação de segurança e liberdade para ir e vir, trocar afetos e viver a vida. E desejo que todo esse processo tenha gerado um aprendizado sobre a importância de termos uma liderança governamental que valorize os princípios da ciência, do SUS e o respeito à vida. 

Stefânia Soares e as equipes da DAS e da Dtec recebem a diretora geral da FeSaúde, Anamaria Schneider, no Drive da UFF  (foto: Ricardo Rigel)